Os têxteis que estão a mudar o mundo

As empresas portuguesas estão a dar cartas nos têxteis técnicos, um universo avaliado pelo banco alemão Commerzbank em 230 mil milhões de euros. Neste negócio um simples fio é sempre mais do que aparenta e qualquer tecido pode esconder poderes funcionais quase milagrosos. A EXAME de setembro apresenta-lhe dez empresas nacionais que competem ao mais alto nível neste sector.

ue têm em comum Nelson Évora, Michael Phelps e Usain Bolt além das medalhas e recordes conquistados como campeões do mundo ou olímpicos? O triatleta português, o nadador norte-americano e o velocista jamaicano, conhecido como “o homem mais rápido do mundo”, chegaram ao pódio das grandes competições vestidos com têxteis de alta tecnicidade made in Portugal.
São apenas três histórias que ajudam a mostrar como as empresas portuguesas estão a triunfar no admirável mundo novo dos têxteis técnicos, um universo avaliado pelo banco alemão Commerzbank em 230 mil milhões de euros, onde um simples fio é sempre mais do que aparenta e qualquer tecido pode esconder poderes funcionais quase milagrosos.
“A expectativa é de que esta área dos têxteis de alta tecnicidade venha a ter um crescimento exponencial pelas aplicações no vestuário clássico e, em especial, no desporto”, sublinha Paulo Vaz, diretor-geral da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, que já viu empresas como a LMA, com 40 trabalhadores e vendas de sete milhões de euros, vestir Usain Bolt para a vitória e recorde olímpico dos 100 metros, em Londres.
Como? Com uma camisola confecionada na P&R Têxteis, em Barcelos, com uma malha técnica de alta performance desenvolvida na LMA, de forma a permitir a transmissão de ar, e uma solução final mais fina e leve, confortável, de alta respirabilidade, pronta a fazer a gestão da humidade do corpo, mas também com propriedades antibacterianas e uma função termorreguladora, através de produtos encapsulados que passam ao estado líquido para arrefecer o corpo quando este aquece e se tornam sólidos, para o aquecer, quando fica frio.
Nesta empresa, habituada a subir ao pódio das grandes competições internacionais, sete trabalhadores estão concentrados em atividades de investigação e desenvolvimento e 10% do volume de negócio são canalizados para a inovação. O foco é desenvolver malhas técnicas para diferentes segmentos, da moda ao desporto e ao vestuário de proteção. A equipa de Fórmula 1 da Red Bull 2015/2016 compete com malhas desenvolvidas na LMA para este efeito e no equipamento de Nelson Évora, campeão olímpico do triplo salto nas Olimpíadas de Pequim 2008, as malhas têm características idênticas às de Bolt, mas foram pensadas para acompanhar o impacto muscular do atleta através da compressão, com elevado nível de incorporação de lycra. As polícias da Alemanha e de Espanha também vestem malhas da LMA.
Entre os novos projetos em curso na empresa de Santo Tirso há malhas para mantas com fibras de alta performance e poderes de acumulação capazes de transformar o calor do corpo e da luz em radiações de infravermelhos que mantêm o corpo saudável e quente, malhas com fios condutores que permitem monitorizar o corpo humano e potenciar a captação das antenas de telemóveis e camadas têxteis para uso em equipamento de proteção de utilizadores de motosserras.

No pódio da fileira têxtil
Manuel Serrão, administrador executivo da Selectiva Moda, uma associação vocacionada para apoiar a internacionalização das empresas têxteis nacionais, não tem dúvidas de que “esta é a área com maior potencial de crescimento da fileira, seja pela via da incorporação de tecnologia e reforço da competitividade, seja pela diversidade de sectores visados”. Além do mais, acrescenta Serrão, “através dos têxteis técnicos, as empresas lusas podem aproveitar o reconhecimento do know how português contornando a questão da marca, que neste tipo de produtos é menos relevante do que na moda”.
Para a Petratex, o cruzamento made in Portugal das mais modernas tecnologias com a velha indústria é um caminho que vale ouro olímpico já há alguns anos. A prová-lo, apresenta a sua patente Nosew, uma solução sem costuras que permite construir as peças de roupa por fusão, aplicando cola, pressão e temperatura em vestuário ou equipamento desportivo, como o fato de natação LZR Racer.
Desenvolvido em Paços de Ferreira, numa parceria da Petratex com a marca Speedo, este fato ajudou o norte-americano Michael Phelps a bater sete recordes do mundo e a nadar oito vezes para a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008. Num desempenho que levou o nadador a escrever uma carta de agradecimento à Petratex e convenceu a revista Time a escolher o LZR como uma das invenções do ano.
Ao primeiro olhar, até poderá parecer um fato de natação normal, mas o LZR revela-se um equipamento à medida de um campeão, sem costuras, para reduzir o efeito de arrasto, construído com uma cinta, que ajuda os nadadores a manterem uma postura otimizada dentro de água, além de um acabamento para repelir a água e reforços num material à base de poliuretano e silicone para comprimir o peito, barriga e coxas, as zonas do corpo com mais massas oscilantes…